top of page

  Manifestações Clínicas

 

    Os efeitos da intoxicação pelo gás mostarda podem ser de ação local, sistémica ou ambas, dependendo das condições ambientais, órgãos expostos e extensão e duração da exposição. Devido à sua elevada solubilidade lipídica, o composto rapidamente penetra nas membranas celulares. Apesar do gás mostarda ser letal é mais provável que cause lesões incapacitantes nos olhos, pele e trato respiratório nas pessoas expostas.

       Reações de alquilação (substituição de um átomo de hidrogénio num composto orgânico por um grupo alquilo [CnH2n+1]) das mostardas sulfuradas com o DNA são rápidas e irreversíveis; contudo, existe um período de latência antes dos efeitos se tornarem aparentes. Lesões oculares e cutâneas só se tornam aparentes após 30 minutos a várias horas após exposição. Queimaduras por gás mostarda requerem longos períodos de tratamento. Manifestações locais manifestam-se a concentrações/doses muito mais baixas do que aquelas que exercem efeitos sistémicos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

     

     

      Efeitos agudos

 

       O primeiro contato com o gás mostarda é normalmente indolor e apenas é reconhecido o cheiro a mostarda ou enxofre. Normalmente a sintomatologia só é observada horas após a exposição. A duração deste intervalo é inversamente proporcional à dose absorvida. Os olhos, a pele e o sistema respiratório são os três maiores alvos dos efeitos locais tóxicos.

      Inicialmente, sinais e sintomas podem aparecer nos olhos cerca de uma hora após exposição, começando com uma sensação de rispidez, dor progressiva seguido de conjuntivite intensa. Após várias horas, o epitélio córneo começa a formar vesículas e lentamente leva a dor intensa, blefarospasmo (espasmos involuntários dos músculos das pálpebras) e diminuição da acuidade visual. Recuperação gradual e espontânea ocorre geralmente após 48h, com completa regeneração do epitélio ao fim de 4-5 dias. Por sua vez, a recuperação completa da sintomatologia pode levar até seis semanas ou mais.

     Efeitos na pele começam com eritema poucas horas após exposição, sem dor ou comichão levando à formação de bolhas e outras lesões nas horas e dias seguintes.

        Normalmente, os sintomas respiratórios ocorrem mais cedo que as lesões dérmicas, e incluem dispneia, tosse e desconforto progressivo no peito. Em casos mais severos, broncopneumonia, síndrome de angústia respiratória aguda e até embolia pulmonar pode ser desenvolvido pelo indivíduo levando à morte, principalmente na segunda semana após exposição.

     Os sintomas de intoxicação sistémicos são bastante semelhantes aos induzidos pela radio-quimioterapia. Uma baixa dose de exposição pode resultar em dor de cabeça, náuseas, vómitos e perda de apetite. Doses mais elevadas podem danificar severamente o trato gastrointestinal e a medula óssea, podendo levar a febre, fraqueza, diarreia, leucopenia e imunossupressão; e em casos muito severos excitação do SNC com convulsões. A intensidade máxima dos sintomas pode ser alcançada depois de alguns dias. Doses muito elevadas de gás mostarda danificam o sistema hematopoiético e imunitário.

 

 

 

      Efeitos Tardios

 

     Durante a Guerra Irão-Iraque, 100 000 pessoas foram expostas a gás mostarda e agora, 30 anos depois cerca de 40 000 veteranos queixaram-se de efeitos retardados. As manifestações clínicas mais referenciadas foram observadas no trato respiratório (78%), sistema neuropsiquiátrico (45%), pele (41%) e olhos (36%).

[8] [9]

bottom of page